Minha alma pede socorro!
Estes tempos sombrios e seus procuradores,
senhores das desesperanças,
têm o estranho poder de mutilar almas descontentes
Eles cavam abismos para os sonhadores
e adormecem as crianças
enquanto afiam os próprios dentes
Toda revolta se desfaz em um vazio.
E o vazio enche seu pote com pedrinhas mundanas
acordar comer trabalhar dormir
e alguma vaga alegria
pra amaciar as bofetadas cotidianas.
Os ponteiros nos arrancam da sensação de morte pela obrigação da caminhada
Enquanto isso, nos roubam as penas das asas e traçam círculos em toda estrada
Quando tentamos voar, já não mais nada...
Há chumbo onde outrora havia sonhos e um hiato onde cintilava a vida
e cada passo conduz apenas ao mesmo ponto de partida
A arte é o grito da alma que não se deixa mutilar...
Por isso os abutres a perseguem:
ela é o eterno limiar
é a porta de passagem
convite para voar
Tentei, dia desses, abrir as asas. E senti um peso.
Silêncio no palco
Plateia vazia
Cortina fechada
Mas estou catando os cacos
e se ainda há palavras que gritam
é que não estou perdida,
apenas atordoada...
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