Carta aos novos rumos
É chegada a hora do Adeus!
De fazer as malas e escolher novo destino.
Olhar para trás e perceber que valeu a pena,
ainda que os sonhos tenham se desfeito em brumas.
O que vale é que enquanto neles eu acreditei,
os fiz verdadeiros.
E,
mesmo que,
de repente,
nada mais reste que frangalhos, ossos e sangue,
estou inteira
porque mataram-me sonhos,
não a possibilidade de sonhar.
A guerra não me derrubou.
Mas arrancou o solo onde eu depositara minha bandeira.
É chegada a hora de enterrar os mortos!
Jogar sobre os cadáveres
a última pá de terra.
E ver crescer sobre ela uma nova árvore.
A memória de meus sonhos não morrerá em mim.
Será adubo para novas colheitas.
Se o abismo desenhou-se à minha frente,
é hora de levantar a ponte!
Que minhas palavras sejam as engenheiras.
Não tenho medo de olhar pra trás.
Estou inteira.
Adeus!
De fazer as malas e escolher novo destino.
Olhar para trás e perceber que valeu a pena,
ainda que os sonhos tenham se desfeito em brumas.
O que vale é que enquanto neles eu acreditei,
os fiz verdadeiros.
E,
mesmo que,
de repente,
nada mais reste que frangalhos, ossos e sangue,
estou inteira
porque mataram-me sonhos,
não a possibilidade de sonhar.
A guerra não me derrubou.
Mas arrancou o solo onde eu depositara minha bandeira.
É chegada a hora de enterrar os mortos!
Jogar sobre os cadáveres
a última pá de terra.
E ver crescer sobre ela uma nova árvore.
A memória de meus sonhos não morrerá em mim.
Será adubo para novas colheitas.
Se o abismo desenhou-se à minha frente,
é hora de levantar a ponte!
Que minhas palavras sejam as engenheiras.
Não tenho medo de olhar pra trás.
Estou inteira.
Adeus!
Comentários
Não sei o que houve, mas sou solidário com a sua dor, e a titulo de consolo transcrevo o poema "A Vã Ressurreição e a Noite Múltipla", de Nélson Saldanha:
Reacender as lâmpadas.
Com elas reordenar as sombras,
e entre elas cruzar o páteo,
onde há longo tempo
jazem sem uso as telhas derrubadas.
Tirar de novo o barco das amarras,
levantar outra vez ferros e portas.
Atravessar o medo antigo e fundo,
mover os remos outra vez.
De novo desenterrar as vísceras,
atar de novo as cartilagens,
riscar veias.
Retomar os degraus desmantelados,
reassumir o pulso, as mãos, os passos.
Entretanto,
apesar dos esforços,
receber a morte pressentida,
prometida desde muito.
Escutar as notas graves,
que ecoam e ressoam como sombras,
e sentir, para além das cartilagens, a noite interminável.
Noite franca, aberta e pérfida,
profusa e leve, escura como as vísceras, corrente,
estendida sem peso sobre a relva,
posta sobre si mesma.
Noite extensa,
fiel e lenta, traiçoeira, múltipla,
fosca e sem cor,
eterna e provisória.
Muito lindo teu poema.
Beijo.
Magna