Mais que chocolates...


 

Neste Dia Internacional da Mulher, acordei sem nenhuma mansidão.

E, ao me deparar com algumas mensagens, foi embora o resto de delicadeza que ainda tinha.

“Tua primeira casa foi uma mulher. Respeita e agradece”

“Metade da humanidade é mulher; a outra metade veio delas... por isso respeita!”

(...)

Como assim, cara pálida?

Mulheres que não são mães não são dignas de respeito?

Em mais um passeio pelas “carinhosas” mensagens, chega uma que começa assim:

“Parabéns guerreira!”

E, entre os motivos pelos quais merecemos parabéns, lá se vão as dezenas de coisas que a mulher tem que aguentar no dia a dia: tarefas domésticas, cuidados com a família, triplas jornadas, etc., etc., etc.

Entendam!!! Eu não quero receber os parabéns pelas coisas que nos fazem mal!!!  Quero que vocês, que nos parabenizam, nos ajudem a dar conta desta guerra diária de arcar sozinha com tantas responsabilidades.

Eu sou uma chocólatra assumida! E certamente não me desagrada receber chocolates e flores...  Mas eu trocaria qualquer chocolate pelo desejo de ver homens e mulheres compartilhando as tarefas domésticas sem que a gente precisasse pedir. Eu trocaria todas as flores pela satisfação de saber que minha filha pode sair à noite tranquila sem medo do que pode acontecer se ela beber um pouquinho a mais...

Dia desses, ela contou que, em uma festa, uma conhecida sua tinha sido abusada por um dos garotos... E sabe o que ele disse em sua defesa: - Vão acreditar em mim ou numa moça bêbada?

Melhor ainda, ao invés dos presentes, seria que a gente se sentisse amada e apreciada por algo que não fosse o tamanho de nosso rabo, nossos lindos olhos ou a qualidade de nossas tetas. 

Assinei ontem a petição pela cassação do mandato daquele idiota que foi a uma guerra para ficar apreciando a fila de refugiadas como quem observa os produtos nas prateleiras do mercado.  Mas vou dizer uma coisa: ele não é o único. Seu caso é mais chocante porque foi em plena guerra. Mas o que não falta é homem que olha as mulheres como quem visita um açougue.

E nós, mulheres, que ainda estamos aprendendo a nos amar, terminamos reféns deste desejo de agradar os outros. Se estamos dentro dos padrões, nos expomos nas prateleiras, ansiosas por ser amadas. Se estamos  fora,  sentimo-nos como restos de comida estragada na lata de lixo...

Neste Dia Internacional da Mulher, eu aceito chocolates, flores e bombons.

Mas  quero muito mais que isso!

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