Odeio crianças. Odeio Natal, ano-novo e todas aquelas luzinhas piscando. Sou gordo, feio, mal-humorado, liso e desempregado. Aceitei aquele trabalho só pra ganhar a grana da cachaça que, esta sim, é minha amiga fiel.
É chegada a hora do Adeus! De fazer as malas e escolher novo destino. Olhar para trás e perceber que valeu a pena, ainda que os sonhos tenham se desfeito em brumas.
E scutem : eu não sou tão mansa como sugere meu sorriso! não sou delicada como faz supor minha miudez! Eu destempero, enlouqueço, transbordo, estou sempre à beira da combustão.
O mar é parte de sua vida, desde sempre. Quando criança, fingia-se sereia. Prendia a respiração, mergulhava o mais fundo que podia, e deixava o som das águas criar uma cantiga em seu coração.
A menina esqueceu um pedaço de sonho no quintal. Sonho de infância. Destes rechonchudos e recheados. Com cheiro de festa e sabor de chocolate. Colorido, com todas as cores do mundo e de fora do mundo.
Um dia, quebrei o vaso de cristal de minha mãe. Erro fatal. Travessura sem perdão. Eu era adolescente ainda. Embora soubesse que cometera um deslize, não sabia a dimensão de meu tropeço.
O jogo acabou há quase duas horas. No entanto, cada vez que fecho os olhos, escuto, com meu corpo inteiro, um coro de 30 mil vozes que gritam: - Ah! Eu acredito!!!
Xande está aprendendo abraços. O menino esquivo, que sonha ter uma arma e chuta cadeiras e gentes, já se deixa beijar. E chega junto, como quem não quer nada, a alma sedenta de carinho.
Maria Helena conhecera a luz elétrica quando tinha 12 anos de idade. Hoje, mais de dez anos depois, seus olhos farejavam abismos, acostumados aos insondáveis da noite. Como felina, ela vagava pelas ruas escuras, tecendo manhãs.
Ser torcedor do Santa é uma dádiva e uma lição. É tirar fôlego de cada queda para ressuscitar a esperança. É dar asas à fênix, para ir das cinzas às nuvens. É costurar no coração a camisa coral.
(Estas palavras vão para Biaggio e Cleyton, pelos deliciosos comentários do último post) O palavrão é o avesso da hipocrisia. Sombra-reflexo da humanidade: no cru, no grotesco, na sua face mais verdadeira.
As vezes, penso que minha vida vai se bordando por si só. Uma agulha invisível, guiada sabe-se lá por que mão, vai juntando tecidos passados e futuros, alinhavando memórias, costurando fragmentos de tempos que se somam.
Não. Eu não quero. Não quero ser apenas palavras bonitas. Não quero escrever apenas belos poemas. Quero que minha escrita seja como um grito, e que mostre o mundo no que ele tem de belo e infame!!!
Meu menino vê o mundo azul. Foi azul a primeira cor que aprendeu a distinguir. E é de azul que se pintam seus sonhos: - Mãe, eu quero um cavalo azul que voa. Você compra? Não pude comprar-lhe os desejos, tais e quais. Mas pude dar uma burrinha, dessas de carnaval, feita de chita azul. Meu menininho lhe deu as asas e sorriu.
Dizem que alegria de pobre dura pouco. Mentira! Alegria de pobre tem a duração da lembrança. É verdade que é feita de pedacinhos, entremeados por muitos vazios. Mas, juntos, estes pedaços ficam grandes. Imensos. Da largura da saudade.
De que são feitos os sonhos? Há os que são feitos de nuvem, leves como flocos de algodão, trazem pedaços de infância, uma pipa no céu, que pula corda com o chão.
Hoje é o Dia Internacional da Mentira. Hoje é 1º de abril. Nesta data, o Brasil deu início à maior mentira de sua história: a ditadura militar. Nunca se mentiu tanto, se omitiu tanto, se calou tanto. Silêncio obtido às custas da censura, da perseguição, tortura e assassinato dos que não deixaram murchar a voz dentro de si.
Adorava comentários. Distração, nas horas vagas e noites mal dormidas, era passear por blogues e mais blogues. Em cada um deles, deixava uma impressão, uma sombra, uma marca de sua passagem. Não pedia retorno nem deixava endereço. Só um sapatinho em cada um dos degraus desta escadaria virtual. Em todos, esta face sem nome deixada na assinatura: anônimo.
É hora de confessar: não me chamo Luna, nem ao menos Freire. Ela é, entretanto, uma de minhas múltiplas faces, como a Bifa do teatro ou a Fabiana jornalista.
O mais duro dos castigos infligidos ao espírito libertário pernambucano não foi o saldo de mais de 1.600 feridos na Revolução de 1817. Não foi, muito menos, nos ter privado da Paraiba, Alagoas ou Rio Grande do Norte - outrora partes de nosso território. Não foi a repressão cruel de cada uma das revoltas, com mortes em praça pública, ou cabeças e mãos mutiladas e expostas... O mais duro dos castigos foi a usurpação de nossa memória.
Quando minha cabeça dói, o estômago reclama e este peso imenso desaba sobre meu corpo, então meu pequenino chora, faz dengo, quer colo, como se minha fadiga pesasse sobre ele.
Ah, menina... eu sei como é duro quando uma semente não germina! A gente rega de sonhos, celebra a vida, a fecundação... e o sonho não prospera, a vida emperra, a flor não brota.
Metade de minha alma é feita de confetes e serpentinas. Metade de minha alma se embala no frevo e nos maracatus. A outra metade é quarta-feira de cinzas... mas esta eu faço adormecer por sob as máscaras e fantasias.
Há imagens que não necessitam de palavras. A pequena Somaeah Hassan, palestina, está morta. Foi uma das centenas de crianças abatidas por Israel na faixa de Gaza.