Para minha Didi-inha

Quando pequena,
tinha pesadelos horríveis,
com sombras aterrorizantes que a seguiam em escadas e porões.


Quando pequena,
via coisas que ninguém vê
e objetos que se mexiam, sozinhos, à sua frente.

Quando pequena,
não gostava muito de estudar,
tirava notas baixas enquanto suas irmãs tinham lindos boletins.

Quando pequena,
era gordinha e morena,
enquanto elas eram alvas e esguias.

Perseguida por todas aquelas sombras,
ela não conseguia perceber
que sua inteligência era criativa, e não se prendia em notas de boletim
que sua beleza a diferenciava em seus olhos expressivos;
contrastava com a magreza branquela das irmãs.

Ela cresceu, mas as sombras cresceram com ela.
Ela cresceu, mas continuou sem conseguir enxergar a si mesma.
Ela cresceu,
e quando as sombras indizíveis não a atormentavam,
ela passou a se ofuscar sob as sombras de amores.
Não conseguiu, contudo, achar o amor dentro de si.

Ah, minha menininha grande,
põe os óculos da auto-estima e expulsa de vez estas sombras que te perseguem.
Estarás sempre cega se colocas nos outros teus olhos.
Estarás sempre triste se deslocas para os outros tuas razões de ser feliz.
A felicidade é um vagalume bem pequenino,
e, quando acende, alumia as coisas mais simples.
Mas é preciso ter olhos para enxergar o seu brilho.
Então, didi-inha, trate de procurar os teus.

Comentários

Anônimo disse…
... As sombras apagaram o maior sonho dela.
Caramba! Putz! Vou falar com que mais? Muito bonito, Luna. Tens uma coisa que acho muito legal, consegues aliar introspecção (quando a gente estuda literatura, chama-se a isso de "viés psicológico") com uma linguagem clara, simples, enxuta.
Valeu!
é de uma doçuradura.

a gente vai desenhando ela.
ela ela ela ela ela lá é.
Cleyton Cabral disse…
como é bom vir aqui. ai ai

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