Alice no país da modernidade

Siga-me: disse o coelho branco a uma Alice meio chapada. Ela procurou a lan house mais próxima e tentou buscar no twitter este tal coelhinho. Achou. Colou seu nome à lista de seguidores. E mergulhou para sempre num buraco imenso que se abriu em sua vida.


As mensagens eram constantes: todo dia uma, as vezes até mais. E sempre intrigantes. Como se o tal coelho soubesse exatamente aquilo que se passava no pensamento da moça. Ela mergulhou neste poço. Não conseguia mais largar a tela do computador, em um abismo que parecia não ter fim.

Um dia, não havia mensagem alguma. Uma imagem apenas, de um gato com dentes armados - para o sorriso ou para a devoração. Alice fitou a imagem e, de repente, o gato pareceu sumir na tela. O sorriso ficou boiando, imenso e terrível...

Os dentes povoaram seus sonhos durante várias noites. Até que um dia, quando ela voltou a se afundar na tela, ele não estava mais lá. O que havia era um estranho convite: Coma-me! E, logo abaixo, um endereço.

Ela sabia que não devia ir até lá. Mas foi. Disfarçada, escondendo-se entre paredes e transeuntes. Mas foi. E então, o mundo pareceu crescer diante de seus olhos. As árvores, os carros, os muros... tudo era gigantesco, como em um conto de fadas. Aflita, ela desmaiou.

Acordou meio tonta, em um velho boteco, um copo de vodca na mão. Agarrou o celular e buscou as mensagens do twitter. Estava lá, em letras garrafais: Beba-me! Alice deu um gole na vodca e teve a impressão de ser sugada pelo celular. Tornou-se pequena, muito pequena... e entrou em uma terra que ela até então não conhecia.

Seguidores de uma seita serviam chá, passando a cabaça de mão em mão. Pareciam sombras de gente. Não se falavam. Não se olhavam. Tinham olhos perdidos no infinito. Alice desviou os olhos e procurou uma saída. Achou uma porta e correu em direção a ela. Foi quando avistou o jardim.

Havia rosas, sim. Havia árvores e plantas. Havia uma grama imensa. E até frutos pelo chão. Mas não havia cores, nenhuma. Tudo era sombra, só sombra. Alice correu até as rosas e, sem querer, espetou seu dedo em um espinho. Viu seu sangue rubro colorir a rosa. Passou, então, a se picar em cada espinho, só pra ter o prazer de enxergar alguma cor.

Cada vez mais pálida, ela escutou, ao longe, o som de uma trombeta. E um exército inteiro que se postava à sua frente. Mas já não tinha forças para esboçar qualquer reação. Foram todos presos: os seguidores da seita, um senhor de chapéu, uma mulher gorda a quem chamavam de rainha e ela, Alice, foi levada a um centro de desintoxicação. Só não conseguiram encontrar o chefe da rede de tráfico: Coelho Branco.

Comentários

Magna Santos disse…
Genial, genial, genial, Fabiana! Que mais dizer?
Taí algo que gostaria de ver publicado nos jornais.
Beijo.
Magna
Magna Santos disse…
Tomei a liberdade de encaminhar para todos da minha lista, tá?
Beijo.
Magna
Mariana de Sousa disse…
hahahahahha, muito bom Fabiana!
Adorei o contexto da Alice, bem historinha de 'adulto'!
parabens pelo texto criativo e pelo blog!
Abraço.

ps*sou sobrinha de Rosi, ela me passou o endereço do seu blog e do anais, que foram muito elogiados por ela! ^^
Andhi Lee disse…
Muito bom! Você ainda publica no blog? Forte abraço.

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