A mulher fantasma
Quando vem a tarde, surgem os primeiros sintomas. Uma dormência nas mãos e a sensação de estar oca. Então acontece: ela começa a desaparecer.
Os dedos buscam as teclas, mas não há dedos. Uma sombra apenas. Depois, nem mais.
Ela tenta coçar os olhos que coçam. Usa os ombros, pois as mãos já são fantasmas. E se dá conta de que não há mais olhos para coçar.
Quer chorar, mas não há lágrimas. Quer gritar, mas a boca sumiu e a voz há muito já não existe.
Então se conforma. Permanece em seu canto, muda, inerte como uma bola murcha.
Depois se dá conta de que apenas ela se percebe sombra.
Ao seu lado, outros lhe lançam perguntas, sorriem, contam piadas. E há uma voz que responde: a sua voz. Há uma boca que ri: a sua boca. Há mãos que teclam, olhos que vêem, um corpo que parece vivo: o seu. Mas só os outros o enxergam assim.
E ela permanece fantasma enquanto um outro, autômato, ocupa o seu lugar.
Todos os dias, isso acontece. Sempre à tarde.
Quando vem a noite e ela busca na escola suas crianças, sua alma retorna e ela volta a ser gente. De carne e osso. E, principalmente, de água e sangue.
Comentários
Que a mulher fantasma siga, portanto!
Beijão bem grandão.
Magna
Obs.:essa semana deu vontade de ligar pra ti e não liguei. Como a gente perde tempo, meu Deus.
Você recorta o mundo e o cola aqui, ainda que seja ficcional, retrata o mundo no geral. Somos todos invisíveis, você e a Magna disseram tudo!
Beijão!