A menina que não dormia
Via apagar-se cada luzinha nos prédios que se postavam em sua janela.
Ficava só. Em companhia das vozes que escapavam da TV, que continuava ligada sem que ela sequer lhes pressentisse os significados.
Então cansava e apertava o botão.
Da TV.
E ouvia o silêncio.
Um carro que passava nas ruas vazias.
O latido de um cão.
O vento chacoalhando a janela.
Então, de repente, ganhavam vida os pensamentos.
Falavam como loucos em sua insônia.
Enchiam-lhe de gritos, privavam-na do silêncio...
De todos os subúrbios de sua alma, chegavam-lhe lembranças, pavores, tristezas, saudades.
E ela já não estava só.
Rodeada de sombras, tentava inutilmente reencontrar a solidão.
E, num esforço último de se livrar das vozes, ligava a TV.
Deixava-se embalar por um programa qualquer, o mais patético possível.
Então dormia. Mas já era hora de despertar...
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