Meu tempo não é este!
Disse ele: "Há vários Moçambiques dentro de Moçambique".
Também nós temos vários Brasis.
Vários espaços e tempos diferentes que convivem em um mesmo território.
Mas há um tempo que tenta engolir os demais.
Um tempo que tudo atropela, que tudo devora, um tempo voraz.
Um tempo que não é o meu.
Falo do tempo-espaço desta modernidade dita progresso.
Este mundo em que somos todos mercadorias. Ou, no máximo, consumidores. E nada mais.
Este lugar onde reinam as rodovias largas: de praças desertas, grandes prédios e muros, crianças que brincam sós.
Este tempo de grandes obras para pouca gente e muita gente carente de obras básicas - como escolas e postos de saúde.
Como lobo feroz, e atroz, ele engole tudo o que não consegue ver: o que é pequeno, simples, o que é invisível para o mundo do consumo.
E lá se vão vilas inteiras, em que os velhos sentavam nas calçadas. Lá se vão as crianças que ainda brincavam de pega-pega e pião. Lá se vão as mulheres conversadeiras, os mercadinhos comunitários, as carroças pelas ruas, as roupas esticadas no varal... Vão transferidas para prédios-caixão, e lá enterram suas lembranças.
Cresci em uma rua onde as crianças corriam de bicicleta, os meninos jogavam bola na praça, os jovens tocavam violão nas calçadas... Continuo na mesma rua. Mas a rua não é a mesma.
Ao invés das casas onde vizinhos se encontravam e as meninas visitavam umas às outras, há escritórios e mais escritórios. Ao invés das bicicletas, os automóveis tomam as ruas, congestionando e transformando em estacionamento cada lugar onde os jovens sentavam para serenatas.
Não. Meu tempo não é este. E estou me sentindo náufraga em uma ilha plantada em mar infinito...
Comentários
Beijo.
Magna
E meu beijo@
Beijo!