Tarde demais

Marina tinha pressa. Passava das 13h30 e ela tinha compromisso às 14 horas. Olhou o relógio e fez contas na cabeça: - em dez minutos chego à parada, conto uns cinco minutos de espera pelo ônibus, mais quinze minutos para chegar à parada destino. Ainda assim, chegaria atrasada. Afinal tinha o tempo da caminhada até o local do compromisso. Apressou o passo.


Cruzou o parque. Havia pombos voando entre as árvores. Árvores antigas, frondosas. Um vento leve e suave. Crianças brincando. Marina nada viu.
Na porta da igreja, um menininho sujo tinha os olhos tristes. A mãozinha estendida, cansada de esperar trocados. Cansaço de existir... Marina não viu.
A espera na parada foi mais longa do que seus cálculos previam: sete minutos e alguns segundos. Ocupada em olhar o relógio, Marina não viu que, do outro lado da rua, um velhinho passou todo o tempo de sua espera tentando atravessar a rua. Em vão.
No ônibus, o telefone tocou: sua mãe. Falou de coisas sem importância: a irmã que viajava, as sementes que comprara para fazer mudas para o jardim, a visita ao médico. E, claro, cobranças: - você não liga, não dá notícias, etc., etc. Marina desconversou. Desligou o telefone. Tinha apenas cinco minutos.
Desceu do ônibus e apressou o passo: dois minutos para chegar. Correu. Na esquina de seu destino, um carro cruzou o sinal vermelho. Marina não viu. Não viu mais nada. E o tempo se vingou. Tarde demais para olhar a vida. Tarde demais.

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Será que era o príncipe de Macabéa?

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