No terapeuta
- Tem um gato me espiando.
- Como?
- Um gato. Gato. Me espiando... toda vez que fecho os olhos, ele está lá. Os olhos grudados em mim.
- Um gato?
- Você é surdo ou o quê? Falei gato. Três vezes. Que merda isso!!!
- Isso o que?
- Você, fazendo estas perguntas imbecis.
- Mas, afinal, o que faz o gato em seu sonho?
- Não é sonho. Eu não durmo, só fecho os olhos. E se eu soubesse o que fazia o bichano lá, grudado nas minhas pálpebras, não precisaria falar sobre ele pra você.
- E por que você falou?
- Por que eu não sei o que diabos ele quer de mim, caralho!!! É difícil assim de me entender? Puta que o pariu!!!
- Pariu quem?
- Você, porra!!! Quem foi a rapariga que te botou no mundo, seu merda!!! Eu estou lhe pagando pra você tirar sarro da minha cara?
-(…)
- Não vai falar nada?
-(…)
-(…)
-(…)
- Ele desaparece quando eu durmo.
- Quem?
- O gato.
- E quando aparece?
- Quando eu fecho os olhos, não já disse?
- Você dorme de olhos abertos?
- Não, cacete. Mas ele só surge quando eu fecho os olhos por pouco tempo.
- Ele apareceu?
- Quando?
- Agora. Você acabou de piscar.
- Não. Nem senti que pisquei... Muito rápido.
- Então você precisa sentir que pisca... Quanto tempo tem que durar a piscadela, três segundos?
- Sei lá, porra!!! Sei que, as vezes, ele aparece.
- As vezes?
- É, sei lá... de vez em quando.
- Fecha os olhos agora.
-(…)
- E aí?
- O que?
- Ele apareceu?
- Não.
- Por que?
- Sei lá, deve estar se sentindo pressionado, acuado...
- Por quem?
- Você, né? Eu é que não sou...
- Então ele me vê de dentro de seus olhos? Me escuta?
- E como é que eu vou saber?
-(…)
- Não vai dizer nada?
-(…)
-(…)
- Senhor, a sessão acabou.
- Mas e o gato?
- São R$90. Continuamos na próxima sexta, no mesmo horário.
-(…)
-(…)
- Descobri. Eu descobri!!!!
- O que?
- O gato!!! É você o gato!!!
- Como?
- Sim, claro!!! Ele sempre aparece quando eu venho aqui.
- Só aqui?
- Ou um pouco antes. Ou um pouco depois.
-(…)
- Sim, claro!!! Quando eu era criança, havia um gato na rua. Perto de casa. Sempre nos roubava a carne. Mãe passava dias sem poder comprar carne, só feijão com arroz. E farinha. Sempre farinha. Todo dia, eu fazia os bolos de feijão com farinha, torcendo pelo dia em que teria um naco de carne. E aí, quando vinha o dia, o gato estragava a festa. Isso aconteceu muitas vezes...
- E agora?
- E agora está acontecendo de novo! Passo um mês inteiro pra juntar meus tostões e o senhor me leva de uma tacada só, em um único dia, R$ 90. E pra que? Pra me ajustar? Eu não quero me ajustar!!! Pronto! Não quero. Boa tarde ao senhor. Estou encerrando as sessões. Não venho nunca mais. E na sexta-feira, vou desabafar com um garçom, que os R$ 90 saem bem melhor empregados na mesa do bar.
O PACIENTE SE DIRIGE À PORTA.
- Senhor.
- Que é, caralho?
- Os R$ 90 desta sessão.
- MIAU!!!
- Como?
- Um gato. Gato. Me espiando... toda vez que fecho os olhos, ele está lá. Os olhos grudados em mim.
- Um gato?
- Você é surdo ou o quê? Falei gato. Três vezes. Que merda isso!!!
- Isso o que?
- Você, fazendo estas perguntas imbecis.
- Mas, afinal, o que faz o gato em seu sonho?
- Não é sonho. Eu não durmo, só fecho os olhos. E se eu soubesse o que fazia o bichano lá, grudado nas minhas pálpebras, não precisaria falar sobre ele pra você.
- E por que você falou?
- Por que eu não sei o que diabos ele quer de mim, caralho!!! É difícil assim de me entender? Puta que o pariu!!!
- Pariu quem?
- Você, porra!!! Quem foi a rapariga que te botou no mundo, seu merda!!! Eu estou lhe pagando pra você tirar sarro da minha cara?
-(…)
- Não vai falar nada?
-(…)
-(…)
-(…)
- Ele desaparece quando eu durmo.
- Quem?
- O gato.
- E quando aparece?
- Quando eu fecho os olhos, não já disse?
- Você dorme de olhos abertos?
- Não, cacete. Mas ele só surge quando eu fecho os olhos por pouco tempo.
- Ele apareceu?
- Quando?
- Agora. Você acabou de piscar.
- Não. Nem senti que pisquei... Muito rápido.
- Então você precisa sentir que pisca... Quanto tempo tem que durar a piscadela, três segundos?
- Sei lá, porra!!! Sei que, as vezes, ele aparece.
- As vezes?
- É, sei lá... de vez em quando.
- Fecha os olhos agora.
-(…)
- E aí?
- O que?
- Ele apareceu?
- Não.
- Por que?
- Sei lá, deve estar se sentindo pressionado, acuado...
- Por quem?
- Você, né? Eu é que não sou...
- Então ele me vê de dentro de seus olhos? Me escuta?
- E como é que eu vou saber?
-(…)
- Não vai dizer nada?
-(…)
-(…)
- Senhor, a sessão acabou.
- Mas e o gato?
- São R$90. Continuamos na próxima sexta, no mesmo horário.
-(…)
-(…)
- Descobri. Eu descobri!!!!
- O que?
- O gato!!! É você o gato!!!
- Como?
- Sim, claro!!! Ele sempre aparece quando eu venho aqui.
- Só aqui?
- Ou um pouco antes. Ou um pouco depois.
-(…)
- Sim, claro!!! Quando eu era criança, havia um gato na rua. Perto de casa. Sempre nos roubava a carne. Mãe passava dias sem poder comprar carne, só feijão com arroz. E farinha. Sempre farinha. Todo dia, eu fazia os bolos de feijão com farinha, torcendo pelo dia em que teria um naco de carne. E aí, quando vinha o dia, o gato estragava a festa. Isso aconteceu muitas vezes...
- E agora?
- E agora está acontecendo de novo! Passo um mês inteiro pra juntar meus tostões e o senhor me leva de uma tacada só, em um único dia, R$ 90. E pra que? Pra me ajustar? Eu não quero me ajustar!!! Pronto! Não quero. Boa tarde ao senhor. Estou encerrando as sessões. Não venho nunca mais. E na sexta-feira, vou desabafar com um garçom, que os R$ 90 saem bem melhor empregados na mesa do bar.
O PACIENTE SE DIRIGE À PORTA.
- Senhor.
- Que é, caralho?
- Os R$ 90 desta sessão.
- MIAU!!!
Comentários
Misericórdia! Mas, tenho pra mim, que o psicólogo não "ajusta" ninguém não, quem sabe depois de algumas sessões, a criatura se veja como um cachorrão e bote o gato pra correr de vez. E aí,consequentemente, também o terapeuta. A ideia é esta.
Olha, ri demais, Fabiana! Esta vou te pedir licença para encaminhar para alguns psicólogos que conheço, tá?
Beijos.
Magna