Céu de estrelas ou pequena história de como se constrói esperanças

Ela acordou com os olhos nublados de céu. Seu peito se inflava de uma agonia risonha, daquelas que nos faz ouvir música em cada sopro de vento. Olhou-se no espelho e se achou bonita. Dispensou os cremes e as tinturas em pó para vestir-se com seu próprio arco-íris.


De repente, depois de anos a fio, ela voltara a acreditar nos homens. Passou até a enxergar asas de anjo nas sombras das pessoas. Uma névoa azul lhe encobria o mundo e ela sentia que era gostoso acreditar.
No dia anterior, um domingo, ganhara uma rosa. Não uma rosa de barganha, a pretender noites e abraços furiosos. A flor lhe fora dada por uma adolescente, de riso tímido, que vestia um vermelho estrelado e dizia que sua cidade ainda pode mudar.
Aquele não era, de fato, um domingo comum. De todas as partes e de todos os bairros, pessoas vestidas de estrelas tingiam de vermelho as ruas cinzentas.
Era uma gente que ainda acreditava nas gentes. E que, qual uma bandeira, punham nos ombros aquele moço magro, desajeitado... mas que era o porta-voz de seus sonhos e desasossegos.
Era gente que, como ela, a vida inteira trabalhara, sofrera, suara. Era gente que, como ela, tinha a esperança alquebrada pela maldade do mundo. Mas era gente que decidira acreditar.
Ela, então, se enebriou dessa euforia de estrelas. E, no dia seguinte, tingiu de vermelho seu céu, e tingiu de céu seu olhar. Pintou asas em sua sombra, deixou as cinzas na gaveta e abriu as portas de seu mundo. Carregou uma rosa e uma bandeira. E apostou em si mesma para forrar de estrelas as noites de cada um.

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