Postagem para um dia de enxaqueca

Desatarrachou a cabeça e guardou na gaveta.
Livraria-se, assim, de três coisas:
- a enxaqueca,
- os pensamentos,
- as lembranças.


Estranho ninguém ter percebido a ausência.
O que restava era apenas o corpo.
Mais nada.
O corpo dormia, acordava, comia, trabalhava, e não sei bem por que boca, até mesmo dava bom dia.
Mais nada.
Mas a cabeça, trancada na gaveta, não parava de pensar.
E, de tantos pensamentos, a gaveta pesou.
Muito.
E a escrivaninha inteira desabou, deixando rolar a cabeça pelo chão.
Quando o corpo chegou, as mãos viram os olhos.
E os joelhos pressentiram os pensamentos.
E os pés vislumbraram as lembranças.
O corpo retomou a cabeça.
E tudo voltou ao normal:
pensamentos,
lembranças...
e enxaqueca.

(Imagem de Salvador Dali)

Comentários

Magna Santos disse…
Que maravilha, Fabi!
E não é assim mesmo que às vezes a gente tenta fazer? Nos desatarracharmos, separar cabeça, corpo, mente, coração? Até o dia que a gente entende que é impossivel, pois está tudo ali...em cada célula, em cada palavra, suspiro, silêncio, choro e riso.
Maravilha!
Beijão!
Magna
Obs.:cadê Val para se derramar nesse surrealismo e constatar o que te disse no Mamulengo?
Canto da Boca disse…
Presente, Magna e sorridente, mas nunca sei o que dizer diante da poética da Fabi, minimamente que ela me atormenta, me inquieta e me acusa, dessa minha inseguranca, aqui, de frente desse altar!
Nao há muito o que dizer diante da criacao dessa menina, ela deixa transbordar o imaginário em cada linha que costura sua poesia, ora corrosiva por se tratar dessa realidade que conhecemos; ora subjetiva, com um véu diáfano, sugerindo que tudo náo passa do nosso imaginário prenhe em ideias algumas vezes sem nenhuma lógica, mas que está escrito com base numa lógica e racionalidade que vai sempre entrar em confronto com os nossos sonhos e desejos. Sei lá... Sei que nada nunca volta ao normal, ou permanece igual, depois que lemos as Palavras-pontes!

Beijos para vocës, minhas queridas, e uma segunda feira tinindo de boa!

;)
Luna Freire disse…
Eita, Valda, assim eu fico toda envergonhada... eu faço isso tudinho aí é??? Deixa de conversa mole, menina, e vai ler o Canto da Boca pra tu ver que coisa linda!!!
E, Magníssima, né que dá vontade mesmo de desatarrachar tudo? ... principalmente quando um das partes dói.
Um beijo, minhas companheiras de alezamento poético.
Magna Santos disse…
Quando fala esta palavra: 'alezamento', fico tentada.
Acabei de mandar email pra ti.
Beijão bem grandão!
Magna
Obs.:o estatuto já vai com 31 artigos.

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