O fazedor de histórias
Dizem que o mundo de cada um tem o tamanho das histórias que
ele coleciona.
Conheci um menino cuja casa era um universo inteiro. Em
expansão.
Difícil dizer de onde vinham tantas histórias: se ele fazia
dos livros seu alimento ou conversava com seres intergalácticos.
O fato é que sabia segredos das estrelas mais longínquas e,
de tal modo nos surpreendiam suas conversas, que às vezes íamos consultar os
almanaques, duvidosos da veracidade das informações.
Mas qualquer almanaque era pequeno para ele. Não cabia nos
livros, escritos ou digitais, a tessitura perfeita de informações e imaginações
- que fazem expandir as galáxias de palavras.
Tão largo era seu universo que ele desafiava o tempo: às
vezes tinha a idade das mais distantes constelações, contada em anos-luz.
Outras vezes era uma criança, como folha em branco: pleno de potências e
esperanças... um afilhado que demanda seus cuidados em um mundo pequeno demais
para ele.
Dia desses, o menino foi buscar novos espaços, seu mundo se
separou do meu. E cá estou, tão carente de suas conversas, tentando transformar
em palavras este hiato que ficou em meu peito. E cá estou, a tentar lançar
tintas e mais tintas pra reforçar um vínculo construído na fogueira e no batismo,
afilhado consagrado por São João.
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