Retalhos de lembranças
Dizem que alegria de pobre dura pouco. Mentira! Alegria de pobre tem a duração da lembrança. É verdade que é feita de pedacinhos, entremeados por muitos vazios. Mas, juntos, estes pedaços ficam grandes. Imensos. Da largura da saudade.
Saudade de um Coque assentado em maré, terra, uma linha de trem e muitas histórias. Histórias contadas pelas mães e avós, na frente de casa, em grupos de vizinhos, num tempo em que televisão era artigo de luxo. Um tempo em que as poucas tevês da comunidade eram disputadas por dezenas de crianças, ou mesmo adultos, que espreitavam pelas brechas das portas e janelas.
Histórias como a de seu Coque que, dizem, deu origem ao bairro. Patrono de uma família de pretos ricos, ele teria construído um palacete em meio aos casebres do local. Sua casa assentara-se no local onde, tempos depois, se ergueu a antiga delegacia. Quando, há cerca de dez anos, a delegacia foi derrubada, descobriram, sob as escavações, uma área desconhecida da casa, toda erguida no subterrâneo.
Histórias de assombração, escutadas no rádio, ou pela boca da professora - que fazia as crianças atravessarem correndo a distância que separava a escola de suas casas.
Histórias estranhas e misteriosas, como a de um homem, que praticava magia e guardava em sua casa muitos segredos. Um dia, dizem, a cabeça do homem explodiu sozinha. As crianças não podiam passar por perto, sob pena de dar de cara com aquela cena terrível de uma cabeça em frangalhos.
Histórias de homens que metiam medo, como o famoso Seu Nezinho, cinturão na mão para açoitar as moças que se entregassem pra noite. Lembranças temerosas, de uma época em que ladrões eram amarrados nos rabos dos cavalos e arrastados até cair o couro.
Histórias de homens queridos, como Seu João da mercearia, onde se comprava tudo do bom. Onde se podia comprar fiado a charque gostosa e a manteiga de verdade - tão diferente da margarina sem gosto de hoje em dia.
Histórias de aprendizagem, da difícil descoberta da leitura em famílias onde ninguém sabia ler. E do papel das professoras, para o bem ou para o mal.
Todos estes relatos foram feitos na reunião do dia 16 de abril de 2009 pelo grupo de mães do Coque, ainda em processo de criação. Foi uma tarde deliciosa, um momento raro de mergulharmos em lembranças e histórias, sem pensar na janta que temos que preparar, nas crianças que temos que levar à escola, ou em mais um capítulo da novela das oito. Muitas histórias ainda vão surgir. Hei de registrar todas elas.
Saudade de um Coque assentado em maré, terra, uma linha de trem e muitas histórias. Histórias contadas pelas mães e avós, na frente de casa, em grupos de vizinhos, num tempo em que televisão era artigo de luxo. Um tempo em que as poucas tevês da comunidade eram disputadas por dezenas de crianças, ou mesmo adultos, que espreitavam pelas brechas das portas e janelas.
Histórias como a de seu Coque que, dizem, deu origem ao bairro. Patrono de uma família de pretos ricos, ele teria construído um palacete em meio aos casebres do local. Sua casa assentara-se no local onde, tempos depois, se ergueu a antiga delegacia. Quando, há cerca de dez anos, a delegacia foi derrubada, descobriram, sob as escavações, uma área desconhecida da casa, toda erguida no subterrâneo.
Histórias de assombração, escutadas no rádio, ou pela boca da professora - que fazia as crianças atravessarem correndo a distância que separava a escola de suas casas.
Histórias estranhas e misteriosas, como a de um homem, que praticava magia e guardava em sua casa muitos segredos. Um dia, dizem, a cabeça do homem explodiu sozinha. As crianças não podiam passar por perto, sob pena de dar de cara com aquela cena terrível de uma cabeça em frangalhos.
Histórias de homens que metiam medo, como o famoso Seu Nezinho, cinturão na mão para açoitar as moças que se entregassem pra noite. Lembranças temerosas, de uma época em que ladrões eram amarrados nos rabos dos cavalos e arrastados até cair o couro.
Histórias de homens queridos, como Seu João da mercearia, onde se comprava tudo do bom. Onde se podia comprar fiado a charque gostosa e a manteiga de verdade - tão diferente da margarina sem gosto de hoje em dia.
Histórias de aprendizagem, da difícil descoberta da leitura em famílias onde ninguém sabia ler. E do papel das professoras, para o bem ou para o mal.
Todos estes relatos foram feitos na reunião do dia 16 de abril de 2009 pelo grupo de mães do Coque, ainda em processo de criação. Foi uma tarde deliciosa, um momento raro de mergulharmos em lembranças e histórias, sem pensar na janta que temos que preparar, nas crianças que temos que levar à escola, ou em mais um capítulo da novela das oito. Muitas histórias ainda vão surgir. Hei de registrar todas elas.
Comentários
Abraço.
Magna
Beijos.
Roberta