Lata d'água na cabeça
Passou sua infância a carregar latas de água na cabeça.
Equilibrava-se nos trilhos do trem,
do Coque à fila da água.
A espera na fila era seu momento único de brincadeiras.
Jogava pedrinhas enquanto aguardava para encher a lata.
Voltava com ela na cabeça, cheia e pesada para uma criança,
principalmente quando é preciso andar nos trilhos.
Quando vinha o trem, era preciso baixar-se,
deitar na terra,
e muitas vezes a lata virava e a água escorria.
Era preciso reiniciar a jornada, repetida exaustivas vezes até ter cheio o tonel.
Com esta água a mãe lavava as roupas da patroa,
que a menina levava depois de limpas, à pé até a Imbiribeira.
E, de volta, trazia as roupas sujas para,
no dia seguinte,
o ciclo recomeçar.
Hoje, a menina já passou dos sessenta.
Tem os braços cansados de lavar roupas.
As roupas que sua mãe, passadas oito décadas,
ainda insiste em lavar.
Hoje, a menina tem filhos criados,
alguns perdidos: para a morte, para as prisões ou para a vida.
Hoje, a menina cria os netos,
cuidando de ocupar seus espíritos
para livrá-los de tudo o que a fez perder seus filhos.
Ela tem um sonho, um só:
"não quero morrer sem aprender a escrever meu nome".
Estes são os moradores do Coque.
Não aqueles que saem nos jornais.
Hei de estar presente quando ela, pela primeira vez, assinar o próprio nome.
Equilibrava-se nos trilhos do trem,
do Coque à fila da água.
A espera na fila era seu momento único de brincadeiras.
Jogava pedrinhas enquanto aguardava para encher a lata.
Voltava com ela na cabeça, cheia e pesada para uma criança,
principalmente quando é preciso andar nos trilhos.
Quando vinha o trem, era preciso baixar-se,
deitar na terra,
e muitas vezes a lata virava e a água escorria.
Era preciso reiniciar a jornada, repetida exaustivas vezes até ter cheio o tonel.
Com esta água a mãe lavava as roupas da patroa,
que a menina levava depois de limpas, à pé até a Imbiribeira.
E, de volta, trazia as roupas sujas para,
no dia seguinte,
o ciclo recomeçar.
Hoje, a menina já passou dos sessenta.
Tem os braços cansados de lavar roupas.
As roupas que sua mãe, passadas oito décadas,
ainda insiste em lavar.
Hoje, a menina tem filhos criados,
alguns perdidos: para a morte, para as prisões ou para a vida.
Hoje, a menina cria os netos,
cuidando de ocupar seus espíritos
para livrá-los de tudo o que a fez perder seus filhos.
Ela tem um sonho, um só:
"não quero morrer sem aprender a escrever meu nome".
Estes são os moradores do Coque.
Não aqueles que saem nos jornais.
Hei de estar presente quando ela, pela primeira vez, assinar o próprio nome.
Comentários
Que Deus te abençoe.
Acabou ainda germinando em Sementeiras.
Obrigada.
Beijo.
Magna
Beijos.
Magna