O enforcado
O enforcado.
Lá estava ele, atado pelos pés.
Uma corda que o prendia a lugar nenhum.
Segurei a carta com firmeza.
Olhei.
E tomei, então, meu primeiro susto.
Era eu,
sim,
era eu naquela carta.
Era eu que sorria para mim mesma,
de ponta-cabeça,
uma perna cruzada
e as mãos ocultas.
Fechei os olhos com força.
Estava em transe, não há dúvidas.
Aquilo não podia ser real.
Voltei a apertar os olhos
e fitei a carta,
mais uma vez.
Meu rosto,
de enforcada,
fez uma careta e voltou a sorrir.
- Que faço eu, aí, de ponta-cabeça?, perguntei.
- Que faço eu, aí, de ponta-cabeça?, a carta respondeu.
- É você, a enforcada - tornei a dizer.
- É você a enforcada - retrucou a outra.
E, assim,
meio sem perceber o que fazia,
apalpei meu próprio pescoço
e descobri a corda que me atava.
Olhei para a carta.
Era apenas um desenho de tarô:
um homem de roupas coloridas atado pelos pés.
Não voltei a tocar em meu pescoço.
Nem tampouco desatei o nó da corda que me prendia...
Comentários
Parabéns!!!